2.9.09

Entrevista revela o perigo dos novos plásticos

Acompanhe excelente matéria do Blog do Meio Ambiente de Bruna Porcíncula, na íntegra:

Doutora em Engenharia na área de gestão ambiental, a professora do Departamento de Química da UFSM Marta Tocchetto aceitou esclarecer algumas dúvidas sobre o uso de sacolas e outros objetos feitos com plásticos ditos menos prejudiciais ao meio ambiente.


Neste debate, nem tudo o que parece ecologicamente correto de fato ajuda o meio ambiente, e a professora revela que há muito o que descobrir sobre o assunto.

  • O que significa dizer que um produto é biodegradável?

  • Isso é uma definição para algo que realmente não fará mal ao meio ambiente?
  • E o prefixo OXI significa exatamente o que em termos de prejuízos ambientais?

Biodegradável é quando a degradação do material é efita por microrganismos (bio=vida; organismos vivos). Os microrganismos utilizam a matéria como fonte de energia (alimento) para seu desenvolvimento. No momento em que usam materia orgânica como fonte de alimento, essa materia vai se decompondo em moléculas menores e menos complexas, facilitando a assimilação pelo meio ambiente. Os plásticos derivados do petróleo demoram mais de 400 anos para se decompor, portanto, esse tipo de material não é biodegradável, pois nem os microrganismos sentem interesse em se alimentar com uma fonte tão complexa, tendo em vista o tamanho das cadeias carbônicas destes materiais.

Oxi-biodegradável é a degradação por fatores físicos, como a luz, ou químicos, como os catalisadores, que é o caso das sacolas oxi-biodegradáveis. O correto seria chamar essa decomposição de oxidegradação. As sacolas deveriam ser chamadas oxidegradáveis.

Na degradação dessas sacolas ocorre o seguinte: com os catalisadores, a oxidação é mais rápida, pois eles aceleram a reação com o oxigênio. Sob a ação dos raios solares, o polímero fica quebradiço e vira pó, o que facilitaria a sua incorporação no meio ambiente e posterior assimilação desse material pelos micro-organismos. Porém, as pesquisas não comprovam isso. A probabilidade de danos ao meio ambiente e à saúde dos seres vivos é grande, em virtude dos metais pesados presentes nos catalisadores.

Há estudos que afirmam que as partículas produzidas nessa decomposição, quando atacadas pela ação de micro-organismos, liberam, além de gases do efeito estufa, como CO2 e metano, metais pesados e outros compostos, que contaminam as águas e a atmosfera. Imagina os produtos gerados pela queima deste material?! Por incrível que pareça, várias pessoas queimam o lixo. Já imaginaram essa poeira voando e caindo nos rios? Certamente isso contaminará a água e toda a vida aquática.

  • Você concorda com a ideia de substituir as sacolas plásticas por embalagens ditas biodegradáveis, ou isso não alteraria em nada os danos causados pelo uso indiscriminado do plástico?

Não concordo. O principal é reduzir a geração. Na minha visão, isso é trocar seis por meia dúzia ou até pior. Os efeitos dos catalizadores no meio ambiente e na saúde são extremamente agressivos. Os polímeros usados para a fabricação são os mesmos das sacolas comuns, ou seja, polipropileno, polietileno e poliestireno.

A mudança está nos aditivos agregados na produção que facilitam a degradação desses plásticos. Esses aditivos aceleram a reação do polímero com o oxigênio do ar, mas formam novos compostos. O plástico modificado, embora se degrade mais rapidamente, continuará contaminando o meio ambiente, em função dos catalisadores derivados de metais pesados, como níquel, cobalto e manganês.


  • Existe um plástico menos agressivo ao meio ambiente?
Existe, porém ainda não em escala comercial. Plásticos derivados de polímeros vegetais, por exemplo. Mais do que procurar um plástico menos agressivo, o ideal é trabalhar com a ideia da sustentabilidade: o uso equilibrado de qualquer recurso natural. Também devemos levar em conta os limites de nossa intervenção sobre o meio ambiente. A idéia de que o meio ambiente é de todos, mas como não tem dono, ninguém se sente responsável, é absolutamente insustentável e está na contramão da sobrevivência das espécies. O importante é não gerar, refletir sobre a real necessidade do uso de uma embalagem. Se houvesse uma estrutura adequada para o recebimento das embalagens usadas em supermercados e lojas, esses locais seriam pontos de coleta. Essas embalagens seriam recolhidas pelos recicladores, sem custo para os estabelecimentos, que poderiam ter vantagens, pois mais do que nunca a associação da marca a cuidados com o meio ambiente representa ganhos.

Não consigo entender como, numa época em que cuidar do meio ambiente é vantagem em termos de competitividade, os estabelecimentos não adotam medidas adequadas ao ver suas sacolas voando em dia de Vento Norte.

  • Que substâncias são liberadas no solo e na água com a decomposição do plástico? Que riscos elas representam à saúde humana e animal?

Os plásticos comuns levam até 400 anos para se decompor. Os oxibiodegradáveis, em torno de 4 meses, dependendo da concentração de catalisador. Apesar dos defensores desse material falarem em "embalagens ecológicas", os estudos não confirmam esse caráter. Vejam os efeitos toxicológicos causados por alguns metais presentes nessas embalagens:

Cobalto (Co) - Lesões pulmonares e no sistema respiratório, distúrbios hematológicos, possíveis efeitos carcinogênicos, lesões e irritações na pele, distúrbios gastrointestinais e cardíacos

Manganês (Mn) - Disfunções renais, hepáticas, respiratórias, cerebrais e do sistema neurológico e má-formação

Níquel (Ni) - Efeitos carcinogênicos, lesões no sistema respiratório, distúrbios gastrointestinais, alterações do sistema imunológico, dermatites, mutações genéticas em embriões
  • Quando se discute a redução do consumo de sacolas plásticas, muita gente sugere o retorno das embalagens de papel. Essa seria uma medida mais "ecologicamente correta" ou esse papel também traz consequências ambientais ruins?
O problema das embalagens de papel é a limitação de uso em função da baixa resistência mecânica e à umidade. Ambientalmente, são mais adequadas, mas isso não vale para qualquer tipo de papel. Papéis encerados, plastificados, aluminizados não são recicláveis. Então, o uso deste tipo de embalagem em termos ambientais é péssimo. Além disso, o uso de corantes também representa um problema, em função das substâncias químicas que poderão conter metais.

Veja o exemplo das embalagens de cosméticos, servem muito mais para atrair o consumidor do que para proteger o produto. Em termos de papéis, os ideais são os pardos ou os brancos, porém, com as restrições de uso que comentei.
Além disso, a praticidade oferecida pelos plásticos certamente ofereceriam uma grande resistência à substituição. Imagina alguém voltando do supermercado, e a sacola rasgando, espalhando compras pela calçada.
  • Na sua opinião, qual o grande equívoco quando se fala em "embalagem ecologicamente correta" para substituir as feitas de plástico? E qual seria a melhor alternativa ao plástico?
O grande equívoco é a falta de informação. Na maioria dos casos, o objetivo principal é o econômico. As informações são vistas de uma forma linear e não-holística. Milagres não acontecem, e qualquer mudança implica em novas conseqüências. Se olharmos as sacolas oxibiodegradáveis apenas com o foco no tempo de decomposição, certamente as vantagens são imensas. Só que isso não ocorre às custas de nada. O preço raramente é mostrado. É nesse sentido que falo em visão holística.

A melhorar alternativa é não gerar, e o que não é reutilizado, que seja reciclado e, como última alternativa então, dispor em aterro.
Destaco que falei aterro e não lixão, pois não são sinônimos. Lixão é uma área sem nenhum tipo de cuidado para dispor o lixo, onde os resíduos são simplesmente largados. Temos de abandonar a idéia de que lixo é só colocar no saco e depois na lixeira e, a partir daí, o problema deixa de ser nosso. Enquanto não assumirmos nossa responsabilidade com relação à qualidade de vida do planeta, qualquer alternativa é absolutamente inócua em termos ambientais.

  • Os alimentos em contato com embalagens plásticas podem absorver alguma substância nociva?

Provavelmente sim, pois esses metais estão na forma de sais e de outros compostos solúveis que podem reagir com o produto embalado como, por exemplo, os alimentos. Na maioria das vezes, essas sacolas ainda são coloridas para diferenciar das tradicionais, aumentando a possibilidade de reação entre o alimento e a embalagem. Os estudos sobre isso ainda não são conclusivos, porém, como demonstra a toxicidade destes compostos, é melhor prevenir do que remediar.

Fonte: Blog do Meio Ambiente

Veja também: documentário sobre plástico da BBC de Londres - Agressão ao Homem

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